O fardo da gestão feliz

Este post foi feito por uma amiga da Fundação Universa, Sibele Godinho.

*Por Sibele Godinho

Ao final do filme “À procura da Felicidade” (The Persuit of Happyness 2006) o personagem principal define um exato instante como “A FELICIDADE”. O drama do pai solteiro Chris Gardner é contato em 117 minutos de filme, e tem seu ápice nos cinco minutos finais da história. O filme não foca processos de gestão, mas aborda a superação pessoal. O que nos interessa, no entanto, é sua definição do que é a felicidade empresarial: um momento preciso de recompensa, como uma lufada momentânea de vento no deserto.

 

Por esta ótica, a gestão feliz não seria vivida coletivamente no cotidiano das empresas, mas individualmente nas pequenas e insuperáveis recompensas. Metas alcançadas, processos finalizados, iniciativas reconhecidas são alguns exemplos. A felicidade empresarial viria numa consequência dos sucessos individuais ou de pequenas equipes, e não do todo, do corpo da empresa. Os modernos processos de gestão de rh comprovam este argumento, pois apontam para o coletivo, com foco no indivíduo: planos de carreira, benefícios de classe, clima organizacional, bônus por produção e etc. A gestão feliz, da empresa toda ao mesmo tempo, torna-se portanto um fardo, ou potencialmente um mito, pois mesmo as empresas com esforços reais na qualidade de vida dos colaboradores, estão sujeitas as oscilações pessoais.

A insatisfação com o trabalho aponta também para motivos individuais. Segundo pesquisa publicada na revista Você S/A com a especialista em medicina organizacional Vera Martins, um ambiente de trabalho é considerado ruim quando o funcionário se sente traído (tem as promessas frustradas), injustiçado (leva a culpa pelos erros dos outros), não é comprometido (ausência de prazos, foco, recompensas), convive com falsidade (problemas com colegas) e não há reconhecimento. A solução para o fardo da gestão feliz recai naturalmente sobre os ombros das lideranças diretas. Para Vera Martins, líderes maduros atraem e geram profissionais calmos, que sentem prazer no trabalho.

Concordo com Vera que as decisões e posturas das hierarquias superiores afetam diretamente o clima e a satisfação pessoal dos colaboradores, e que a gestão de rh deve caminhar de forma ascendente na busca da melhoria global da qualidade de vida do colaborador, mas sugiro que além do que faz ou deixa de fazer o chefe, cada um coloque sobre o próprio ombro o fardo da sua felicidade no trabalho. Se a empresa está sujeita ao indivíduo, o indivíduo deve ser responsável pela empresa. Sugiro que o funcionário usufrua de todos os benefícios oferecidos pela empresa em que escolheu trabalhar, mas que, imbuído do espírito Chris Gardner, lute, pelo seu instante diário de felicidade.

 *Sibele Godinho é especialista em gestão da comunicação nas organizações e coordenadora de comunicação da Fundação Universa

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